Val d’Orcia: roteiro por cidades medievais e paisagens da Toscana
Se você sonha em fazer uma viagem de carro pela Toscana, o Val d’Orcia é uma das melhores regiões para fazer esse roteiro.
Essa região do sul da Toscana concentra algumas das paisagens mais bonitas da Itália.
Sabe aqueles cenários de filmes que vemos e reconhecemos imediatamente como sendo na Toscana? Campos dourados, ciprestes enfileirados, vilarejos medievais… Isso tudo é Val d’Orcia!
Mas além das belas paisagens, essa região da Itália também é famosa pela produção de vinhos mundialmente renomados, como o Brunello di Montalcino.
Neste post, você vai encontrar um roteiro completo para explorar Val d’Orcia de carro, passando por cidades como Montalcino, San Quirico d’Orcia e Pienza. É para comer bem, provar vinhos e viver um dia lindo na Toscana.
Vamos nessa?
O que é a Val d’Orcia? Entenda a paisagem
A região de Val d’Orcia, na província de Siena, na Toscana, foi declarada Patrimônio Mundial pela UNESCO em 2004 por conta de sua paisagem.
Mas preciso te contar uma coisa incrível. Esse cenário não é apenas bonito: ele foi intencionalmente planejado para ser assim.
Durante os séculos XIV e XV, na época do Renascimento, a cidade de Siena decidiu transformar o território ao sul, para que representasse, visualmente, um exemplo visual de boa governança da região.
O resultado? Uma paisagem desenhada para refletir os ideais renascentistas de ordem, harmonia, prosperidade e equilíbrio entre o ser humano e a natureza.
Nada no Val d’Orcia é por acaso. Os campos cultivados, os vilarejos no topo das colinas, as linhas de ciprestes, as estradas sinuosas, tudo foi concebido para ser funcional e belo.
Era uma paisagem-modelo de uma sociedade bem administrada. E deu tão certo que virou arte.
Pintores da Escola de Siena se inspiraram nas paisagens de Val d’Orcia, e eternizaram esse cenário nas obras renascentistas. Toda essa produção artística moldou nosso imaginário sobre a “paisagem perfeita”.
Sabe aquela imagem toscana que povoa os nossos sonhos, com campos infinitos, colinas douradas, vilarejos de pedra e um céu perfeitamente azul? Pois isso tudo foi realmente pensado para se parecer com um sonho.
O mais surpreendente? Val d’Orcia é real, e continua perfeita. Mudou pouco ao longo de todos esses séculos então.
A região tem vilarejos preservados, campos onde os grãos são cultivados, vinhedos, oliveiras e fazendas com criação de gado. Uma paisagem que permanece, ao mesmo tempo, no passado e no presente.
Val d’Orcia é poesia eternizada nas colinas da Toscana.
Denominações de origem dos vinhos na região do Val d’Orcia
Um dos principais destaques de Val d’Orcia são seus vinhos. Ali são produzidos alguns dos vinhos mais famosos e renomados da Itália.
A certificação DOC (Denominação de Origem Controlada) garante que os vinhos de Val d’Orcia são únicos no mundo, e existem regras específicas quanto à área geográfica, tipos de uva e métodos de produção.
Ao visitar Val d’Orcia, você estava viajando pela terra onde são produzidos:
- Orcia DOC: vinhos tintos, brancos e Vin Santo. O tinto leva ao menos 60% de Sangiovese; o branco, 50% de Trebbiano. Também há versões como Orcia Sangiovese e Orcia Sangiovese Riserva.
- Brunello di Montalcino DOCG: produzido exclusivamente em Montalcino, com 100% Sangiovese (Brunello). É um dos vinhos mais famosos da Itália, com envelhecimento longo e grande potencial de guarda.
- Rosso di Montalcino DOC: o “irmão mais jovem” do Brunello, também feito com 100% Sangiovese, mas com menos tempo de envelhecimento e perfil mais leve.
- Vino Nobile di Montepulciano DOCG: produzido na cidade de Montepulciano, com pelo menos 70% de Sangiovese (mas aqui a uva é chamada de Prugnolo Gentile).
- Rosso di Montepulciano DOC: versão mais jovem do Vino Nobile, com regras menos tempo de envelhecimento.
Essa grande quantidade de vinhos de excelente qualidade fazem dessa região um destino muito procurado por enoturistas. Val d’Orcia é um paraíso para quem ama vinhos com identidade e tradição.
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1 dia em Val d’Orcia: roteiro de carro
Com certeza, o melhor jeito de visitar a região de Val d’Orcia é com um roteiro de carro.
As cidades da região são pequenas, distantes entre si e pouco conectadas por transporte público. De carro, você tem mais liberdade para deslizar entre as colinas da região no seu ritmo, fazer paradas e descobertas inesperadas.
No nosso caso, retiramos o carro em Florença e incluímos um dia em Val d’Orcia no nosso roteiro de 4 dias pela Toscana.
Visitamos cidades medievais, além de belas paisagens no caminho, como os famosos campos de ciprestes e a Capela da Madonna di Vitaleta.
Foi um dos pontos altos da nossa viagem pela Toscana e estou feliz de compartilhar tudo com vocês nesse post!
Confira todas as paradas do nosso roteiro de 1 dia em Val d’Orcia:
Montalcino
Nosso dia em Val d’Orcia começou em Montalcino, e se existe um ponto de partida perfeito, certamente esse foi um deles.
A cidade já te conquista logo na chegada. Quando vamos nos aproximando de carro, já vemos aquele visual típico de vila medieval no alto da colina, rodeada por vinhedos. Um espetáculo.
Estacionamos sem muita dificuldade, já que era baixa temporada. Os estacionamentos ficam todos fora da cidade murada, já que o interior do vilarejo é uma ZTL (Zona de Tráfego Limitado).
Caminhamos pelas ruas silenciosas, já absorvendo a atmosfera bucólica da cidade.
Cruzamos a Via Ricasoli, uma das principais ruas do centrinho histórico, e as lojas ainda estavam abrindo as portas, num ritmo todo delas.
Atravessamos os portões da Fortezza di Montalcino, onde funciona uma enoteca, que oferece degustações de Brunellos, e produtos típicos. Ali mesmo compramos o bilhete de acesso para as muralhas da fortaleza, por 4 euros.
Depois da visita à fortaleza, nos permitimos caminhar mais um pouco pelo vilarejo.
Entramos em igrejas, lojinhas de produtos locais, demos uma olhada em algumas enotecas e aproveitei para fazer uma degustação na Enoteca della Piazza.
Essa loja vale muito a pena sua visita. Nas estantes, estão mais de 100 rótulos de Brunello, com doses de diferentes preços, que você pode provar em um sistema de auto-serviço (pague o que consumir).
Como a gente estava de carro, somente eu fiz as degustações, e o Rafa ficou de motorista da rodada.
Na hora do almoço, um restaurante bem recomendado é a Taverna del Grappolo Blu, que é simples mas sempre recomendado.
Mas eles ainda não tinham aberto as portas, então arriscamos entrar numa portinha qualquer e pedir uma fatia de pizza. Adivinhem? Deliciosa. Nada como um país que valoriza a qualidade dos produtos que vão em cada receita, não é mesmo?
Foi um começo de dia delicioso, daqueles que fazem a gente entender por que a Toscana tem essa fama toda. Montalcino deu o tom perfeito pra tudo que ainda viria pela frente na Val d’Orcia.
De volta para o carro, voltamos para a estrada rumo à próxima parada.
Ciprestes na Toscana
Depois de sair de Montalcino e dirigir por uns 10 minutos, chegamos em um dos cenários de cartão-postal da Toscana.
É impossível rodar por essa região sem se parar o carro pelo menos uma vez para fotografar os famosos ciprestes da Toscana.
E bem ali, entre Montalcino e San Quirico d’Orcia, tem um ponto muito famoso para fotografar essas árvores que são um verdadeiro símbolo da Toscana.
Paramos o carro na estrada e fomos andando para ver um aglomerado de ciprestes. Primeiro, solitários entre colinas douradas. Uma perfeição.
Depois, andando mais um pouco, encontramos mais um grupo de ciprestes, alinhados em formato circular, perfeitamente simétrico. Uma coisa linda!
Estar ali, ao vivo, com aquele céu azul e o sol iluminando os campos dourados, foi emocionante.
Inclusive, levei minha cópia do livro Sol o Sol de Toscana, para fotografar nesse cenário, já que foi esse livro que me fez sonhar em viajar para a Toscana pela primeira vez!
San Quirico d’Orcia
Seguimos pelas estradas da Toscana, até nossa próxima parada, em San Quirico d’Orcia.
A cidade é pequena, e faz parte da Via Francigena, antiga rota de peregrinação dos fiéis rumo a Roma. A cidade funcionava como um ponto de apoio, onde os peregrinos podiam descansar e se alimentar para seguir viagem.
A estrutura da vila medieval está perfeitamente preservada, com uma muralha circulando a vila e protegendo as ruas de pedra. O charme está em tudo: nas flores colorindo as paredes, e na vista da paisagem além da colina.
São poucas ruas, então separe alguns minutos para percorrer a vila. Passe pela rua principal, Via Dante Alighieri, mas não se limite a ela.
Se perca pelas ruelas, e visite também a Igreja de San Quirico e a Igreja de San Francisco. Essa última abriga uma estátua de Nossa Senhora, feita por Andrea della Robbia em 1870, que muitos acreditam ser milagrosa.
Antes, essa imagem ficava na Capela Vitaleta, outro ponto muito fotografado em Val d’Orcia, na Toscana. E que é justamente a nossa próxima parada do nosso roteiro.
Capela della Madonna di Vitaleta
Ainda no território de San Quirico d’Orcia, mas saindo da cidade e dirigindo pelos campos mais um pouco, chegamos na Capela Vitaleta.
Precisamos o GPS para achar a localização precisa. Paramos o carro numa cancela, sem qualquer indicativo de que era realmente ali. Mas era, eu tinha pesquisado. Dali em diante, vamos caminhando.
Em uns 5 minutos, já avistamos a capelinha. Pequena, isolada e fotogênica até dizer chega, ela fica ali meio dos campos, com mais ciprestes completando a paisagem ao fundo.
O cenário perfeito, ali só esperando que a gente chegue para admirar.
A capela em si é bem pequena. Estava aberta, embora não tivesse mais ninguém ali além da gente. Conseguimos ver por dentro.
Hoje existe uma nova imagem de Maria, já que a original, e dita milagrosa, foi movida daqui para a igreja em San Quirico d’Orcia.
Pienza
Depois de San Quirico, seguimos para Pienza, uma dos maiores símbolos da perfeição que foi planejada para existir em Val d’Orcia.
A cidade é conhecida como a “cidade ideal do Renascimento”, graças ao Papa Pio II, que nasceu ali e decidiu transformar o vilarejo medieval em um exemplo de urbanismo renascentista.
O resultado é um pequeno centro histórico que foi completamente planejado para ser harmônico e cheio de charme.
De cara, cai de amores por Pienza. Uma das minhas paradas preferidas do dia. Ela é pequena, mas tem beleza por todo canto.
A Piazza Pio II, com a catedral e os prédios históricos ao redor, é o coração da cidade. A partir dela, se abrem ruas e vielas floridas por onde a gente caminhou sem pressa, tirando mil fotos…
Imagine o encanto do lugar a partir dos nomes das ruas: Via del Bacio, Via dell’Amore – esta última desemboca em um mirante esplêndido, com vista para o vale e para o por do sol.
Em Pienza, também há diversos restaurantes que convidam para um aperitivo, e uma loja de queijos que me atraiu pelo cheiro inconfundível (o pecorino de Pienza é um orgulho local). Pienza é uma festa para os sentidos.
Pienza é uma cidade repleta de pequenas coisinhas encantadoras, e ainda assim, é uma cidade tranquila. Não estou exagerando ao dizer que fiquei apaixonada.
Se fosse pra voltar com mais calma em algum lugar da rota, Pienza seria minha escolha número 1.
Montepulciano
Depois de conhecer Pienza, pegamos a estrada novamente, rumo a última cidade do nosso dia: Montepulciano.
Quase chegando na cidade, fizemos um pequeno desvio na estrada, para conhecer a belíssima igreja de San Biagio, construída entre 1518 e 1540.
Infelizmente, estava fechada, e só conseguimos ver por fora.
Essa igreja foi construída com uma planta de cruz grega renascentista, da mesma forma que a Basílica de São Pedro em Roma, que começou a ser erguida mais ou menos na mesma época.
Depois da parada na igreja, entramos de fato em Montepulciano. Já era final de tarde, e o sol já começava a baixar.
Nosso plano deu certo: queria chegar em Montepulciano a tempo de ver o por do sol em um dos vários mirantes da cidade.
Montepulciano fica no alto de uma colina, entre os vales da Val d’Orcia e da Val di Chiana. Há mirantes com vista para os dois vales. Vinhedos, campos, aquele cenário perfeito.
Caminhamos um pouco pelas ruas íngremes e de pedra, espiando lojas de vinho, artesanato e produtos locais.
Quando o sol se pôs de fato, aproveitamos para nos aconchegar numa cantina local, e nos deliciar com um jantar de pratos regionais bem servidos.
Entre nossas escolhas, provamos pici al ragù (um macarrão toscano mais grosso, feito à mão) e carne de porco com ervas.
Eu harmonizei o prato com uma taça do vinho tinto local, o Nobile di Montepulciano, que é o orgulho da cidade. Encorpado, aromático, perfeito pra fechar o roteiro com chave de ouro.
Outros lugares para conhecer no Val d’Orcia
Além das cidades que incluímos em nosso roteiro, o Val d’Orcia ainda possui outros vilarejos e atrativos que você pode incluir no roteiro, caso tenha mais tempo na região. Por exemplo:
Monticchiello – vilarejo medieval famoso pelo Teatro Povero, um projeto comunitário onde os moradores encenam peças sobre sua própria história.
Rocca d’Orcia – pequeno e encantador, com ruas de pedra vista do alto da Rocca di Tentennano, uma fortaleza histórica que já protegeu a Via Francigena.
Bagno Vignoni – uma vila termal na Toscana. No lugar da praça principal, há uma grande piscina termal de pedra, usada desde os tempos romanos. É possível relaxar em spas ou caminhar entre as ruínas das antigas termas.
Dicas práticas para montar seu roteiro de carro em Val d’Orcia
Qual a melhor época para visitar?
Val d’Orcia muda completamente de acordo com a estação do ano, e essa é justamente a mágica da região.
No verão (junho a agosto), os campos dourados dominam a paisagem. É quando você vê aquela imagem clássica da Toscana: colinas amarelas, ciprestes verdes, céu azul sem nuvem.
Mas, prepare-se para os contratempos: o calor forte e os vilarejos mais cheios.
No outono (setembro a novembro), o clima fica mais ameno, o movimento diminui e as cores da paisagem ganham tons alaranjados e avermelhados. Também é a época da colheita das uvas.
Já no inverno, os dias ficam mais curtos, e muitos estabelecimentos fecham por conta da baixa temporada. Os campos ficam mais secos e acinzentados, e há bem menos turistas na região. Ainda assim, Val d’Orcia tem sua beleza.
Quanto tempo reservar para esse percurso?
O ideal é ter pelo menos 1 dia inteiro só para Val d’Orcia, mas se puder dividir em 2 dias, melhor ainda.
Assim você consegue curtir os vilarejos com calma, almoçar sem pressa, fazer degustações e parar sempre que quiser para fotografar. Um dia em Val d’Orcia é maravilhoso, mas esse roteiro feito em 2 dias pode ser ainda melhor.
Onde se hospedar?
Dá pra fazer uma base única, ou escolher mais de uma cidade para se hospedar. Tudo depende do seu ritmo e estilo de viagem.
Para quem vai escolher uma base única, eu diria que um vilarejo mais central, como Pienza ou San Quirico d’Orcia, facilita para sair cedo com o carro, fazer os passeios no estilo bate-volta, e voltar para a hospedagem no final do dia.
Agora, se prefere fazer uma imersão mais completa, passando mais dias na região, uma sugestão é escolher hotéis em vilarejos diferentes, por exemplo dormindo uma noite em Montalcino e outra em Montepulciano.
Assim, você consegue conhecer cada cidade com calma, fazer degustações nas enotecas locais sem precisar em se preocupar em fazer escolher um motorista da rodada para dirigir depois, aproveitar restaurantes e tudo mais.
Preparado para explorar as paisagens da Toscana em Val d’Orcia?
Explorar a Val d’Orcia de carro foi uma das experiências mais incríveis da nossa viagem pela Itália.
Com liberdade para viajar no nosso ritmo, e parar sempre que quiséssemos, aproveitamos cada mirante, cada vilarejo, cada curva do caminho.
Espero que, depois de ouvir meu relato, e ver todas as fotos lindas que registramos durante nosso roteiro de carro por Val d’Orcia, você tenha decidido incluir essa região no seu roteiro pela Toscana.
Continue planejando sua viagem para a Itália
Se quiser mais detalhes sobre o nosso roteiro completo pela Itália ou dicas específicas sobre outras regiões, pode perguntar na caixinha de comentários aqui embaixo.
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