Por que a gente viaja?

Afinal, por que a gente viaja? Eu acho que tem a ver com movimento. Não sei exatamente se essa necessidade de movimento já nasceu comigo, ou se começou de repente. Como um estalo de vida numa das minhas viagens mais antigas.

Talvez uma experiência muito boa ao longo do caminho. Ou essa curiosidade por descobrir tudo isso que eu ainda não sei ou não vi.

O mais certo é que tudo isso junto seja um combustível explosivo que me faz desejar, todo dia, um pedaço novo de descoberta. Estar a caminho, na estrada, em movimento. Essa irresistível vontade de partir.

O que é Wanderlust?

Wanderlust vem do alemão: wandern, caminhar ou vagar e lust, desejo forte. Algo como uma vontade incontrolável por viajar, estar a caminho.

Desde a primeira vez, essa palavra me encantou, como se pudesse explicar em poucas letras tudo que eu sentia. Um desejo irresistível de encontrar o desconhecido.

Conhecer culturas, me comunicar em outros idiomas. Ver com meus próprios olhos lugares que eu só sonhei, vi em filmes ou li em contos mais antigos que qualquer um de nós.

Uma palavra tão forte e significativa que precisava ficar marcada na minha pele, como uma tatuagem.

Leia também: Slow travel: porque viajar mais devagar

Por que a gente viaja?

Mas nem todo mundo ama, ou precisa viajar pra ser feliz

Sei que nem todo mundo é assim.

O maior exemplo disso é meu pai, que nasceu com raízes tão fortes, tão profundas, que é difícil fazer os galhos daquela velha árvore balançarem um pouco pra longe de onde está plantada.

Tem gente que está exatamente onde sempre quis estar, e isso é mais que o suficiente para a viagem de uma vida.

Tem outro tanto de gente que nunca nem pensou nas infinitas possibilidades que a estrada dá, porque partir envolve deixar algo pra trás. E com base nesse apego, encontra outras infinitas possibilidades bem ali, onde resolveu ficar.

Já eu… Eu tenho esse Wanderlust. Aos poucos, a personalidade de estrada foi se formando em mim, e vim mudando pequenas coisas até estar aqui, pronta para partir a qualquer momento.

Primeiro veio a curiosidade. Eu queria ver o que tem lá fora, onde meus olhos não podem ver e eu só posso imaginar.

Depois fui adotando um estilo de vida mais minimalista, quando entendi o valor de cada coisa em minha vida (e o valor da cadeia produtiva de cada coisa).

Eu não preciso de tanto, e o pouco que preciso é o essencial.

Por último, veio a parceria com Rafa. De mãos dadas na estrada, ele foi completando o que me faltava. Me dando senso de direção e uma confiança sem tamanho em mim.

Tudo junto, e eu entendi que eu posso ir exatamente aonde eu quiser, sem (muito) medo. A mochila cada vez mais leve, as viagens cada vez mais longas, o coração cada vez mais pleno.

Por que a gente viaja, afinal?

Um dia me perguntaram porque eu viajo. Se era tudo pelas fotos no Facebook. Acho que talvez um pouco no começo de tudo, mas faz tempo que não é mais assim. Não é luxo. Não é glamour. É desejo, wanderlust.

Essa irresistível vontade de partir. Nem todo mundo entende e muita gente julga.

Nem eu mesma sei explicar. Por que a gente viaja, afinal? Pra partir, pra ver o outro, pra se encontrar em outras formas de viver. Pra viver de acordo com o que a gente acredita. Para escapar (ou se achar).

Por que a gente viaja?

Outras formas de viajar – sem estar viajando

Mas nem só de viagens e passaportes a gente vive. Nem sempre é possível viajar “na prática”, mas desde muito tempo aprendi outras formas de viajar sem precisar estar de fato na estrada para algum lugar.

Viajo nos meus livros escritos em diferentes partes do mundo. Embarco para a Tailândia quando experimento o Pad Thai daquele restaurante escondido no bairro de Laranjeiras.

Um pedacinho de Portugal está bem ali, no Rio Antigo. E a Itália é um pedaço de lasagna que eu estou tentando acertar, enquanto tomo um vinho que trouxe na mala do Uruguai, e tempero tudo com aquele azeite grego que ganhei junto com um sorriso, daquela senhora que tomava conta da pousada em Zakynthos.

A gente não precisa ir longe pra descobrir o mundo, mas a gente precisa estar de olhos abertos para ver o mundo em detalhes. High definition e full HD.

E agir o coração para que, quando as viagens de passaporte acontecerem, elas não sejam só mais uma foto ou um cartão-postal.

Que seja tudo aprendizado, mãos dadas de quem vai com você ao longo do caminho, ou novas amizades que você pode fazer (de um dia ou uma vida).

Que seja tudo sobre abrir ao coração e se preparar para fazer de todo dia, uma nova viagem.

Viajantes do mundo: por que a gente viaja?

Esse post não fala muito sobre viagens, da forma que você já estava acostumado por aqui. Ou fala tudo? A certeza é que aqui se fala um pouco sobre mim, e vai ter mais disso aqui pelo Fui Ser Viajante.

Porque quero encontrar mais gente que, como eu, como Rafa, como alguns outros amigos que encontrei na estrada, vivem a vida com essa irresistível vontade de descobrir, provar, sentir.

Amigos que não esperam por uma semana de janeiro para fazer a única viagem do ano, mas que fazem de uma volta no bairro uma viagem inteira.

Quem sabe um dia a gente entenda de verdade que a vida inteira, do começo ao fim, é nossa maior viagem.

“Aqueles que eram vistos dançando eram tidos como insanos
por aqueles que não conseguiam ouvir a música.
Dou como desperdiçado todo dia que não se dançou”
Nietzsche

Leia também:
+ Primeiro post do blog: como tudo começou

Lila Cassemiro
Klécia Cassemiro (Lila, para os amigos) é fotógrafa, videomaker e editora de conteúdo no blog Fui Ser Viajante. Também é sommelier de cervejas, formada pelo Instituto Science of Beer. Viajante geminiana e curiosa, é especialista em desenhar roteiros fora do óbvio e descobrir os segredos mais bem escondidos de cada destino.
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Comentários:
Ruthia disse:

Klécia querida. Adoro quando um blog de viagens sai do comum e traz o individual, o único, para todos apreciarem. Vc faz isso com uma delicadeza emocionante. Escusado será dizer que sofro desse vírus de nomadismo e que contagiei o meu filho. Há 2 dias, no avião a caminho de Angola para passarmos o Natal com o marido/pai, o Pedro perguntou-me quando seria a nossa próxima viagem. Imagino que, quando for mais velho, será um mochileiro inveterado. Essa curiosidade pelo “outro”, que em mim nasceu apenas em idade adulta e que já é tão forte no meu filho, acredito que nos muda como pessoas, altera o nosso futuro.
Bem, o comentário já vai longo, e eu passei apenas para desejar um doce Natal, com lindos (re)encontros, muitas aventuras em 2018 e menos gente julgadora à nossa volta. Grata pela sua maravilhosa companhia ao longo deste 2017.
Beijinho de boas festas

Klécia disse:

Ruthia, e eu gosto quando a gente encontra no caminho gente assim, que tem um jeito de viajar e ver o mundo bem parecido com o nosso. Torcendo pelas descobertas do Pedro, que ele realmente cresça sonhando com tudo que ele poder ver, sentir e aprender no mundo. Como você bem disse, viajar pode mudar as pessoas – e o mundo.
Por viagens lindas pra gente em 2018!

Que texto mais lindo! Com certeza eu sou uma dessas pessoas que se identifica com cada linha, cada uma das palavras descritas neste texto!

Esse vontade de descobrir o mundo vai muito além das redes sociais, e como você disse muitas vezes viajamos sem sequer sair do sofá. Eu demorei muito para conseguir entender e aceitar como pode existir pessoas que não querem sair da sua cidade, estado, país? Isso é um absurdo! Mas só consegui aceitar isso quando percebi que o meu estilo de vida “gastar dinheiro com viagem” parecia um absurdo para tanta outras pessoas. Essa é a graça da vida,não é mesmo?

Desejo muitas viagens para o FSV e que você nunca deixe de compartilhar as suas viagens, pq essa é uma parte da minha viagem sem sair de casa.

Klécia disse:

Essa é a graça da vida, a viagem de cada um. E também só fez sentido pra mim depois de entender que nem todo mundo vê ou espera a mesma coisa que a gente. Muitas viagens e maravilhas em 2018 para o PCP, Mayte! Que a magia que você nos conta em cada post sempre esteja em nossas vidas no ano novo!

Analuiza disse:

Um texto sensível e doce. Profundo. Há quem goste de ficar e há quem goste de partir de ver e sentir o mundo de perto, como nós! Esta inquietação que vem da alma e que a gente quer sempre estar em movimento.

Além de tudo, este é um texto cheio de sabedoria, pois podemos viajar a todo instante e de tantas maneiras distintas. Eu acabei de fazer uma viagem linda, que me causou um sorriso no rosto e me presenteou com instantes de muito prazer, à medida que ia deslizando pelas palavras.

Este post fala tudo de viagens, fala um pouco sobre você… Que delícia ver esse tom, esta nuance, este cotidiano que nada tem de comum, pois é tão seu… que bom que você decidiu repartir isso com a gente que anda sempre por aqui. Prevejo mais viagens lindas, variadas, agradáveis, intensas e suaves, junto com o FSV. Chega logo 2018!!! beijuuusssss

Klécia disse:

A gente vem viajando junto há mais de um ano, Ana! Certeza que a viajante que sou hoje tem muito do que aprendi com a Ana Viajante, a Ana pessoa, a Ana maluquinha!
E vem sendo uma maravilha contar com você nessa jornada! Que venha um 2018 ainda mais cheio de poesia e viagens pra gente!