Os alemães, de Vinícius Liebel: muito além de um estereótipo

Quem são os alemães? O primeiro reflexo é responder com o óbvio: um povo que gosta de cerveja, envolvido no centro das principais guerras mundiais, grandes fabricantes de carros e uma ótima receita de chucrute.

Temos essa (terrível) mania de achar que conhecemos um povo e seu país, propagando um estereótipo de uma cultura.

Depois de ler Os Colombianos e aprender tanto sobre esse povo e seu país, fiquei empolgada com a oportunidade da vez. O livro Os Alemães, de Vinícius Liebel (coleção Povos e Colonizações, Editora Contexto) vem mostrar que a Alemanha é muito mais que esses estereótipos simplistas nos quais nos agarramos.

Confesso que ampliei meus horizontes com relação a Alemanha. O livro nos leva para um passeio por vários aspectos do que, verdadeiramente, significa ser um alemão.

Quem, afinal, são os alemães?

Claro que há muito da cerveja, da salsicha e o do chucrute. Mas a geografia, o idioma, a cultura alemã tem muito mais para mostrar ao mundo.

O historiador Vinícius Liebel mostra isso no livro, de uma forma descritiva, envolvente e bem completa.

A viagem é completa: começamos com a origem da ocupação do território que hoje chamamos de Alemanha. E pra mim, uma confessa admiradora da mitologia germânica, foi um prazer virar as primeiras páginas do livro, que contavam mais sobre os temidos “bárbaros” e seu deus Thor.

Mas a minha empolgação não parou por aí. A viagem segue pela relação da Alemanha com o espaço geográfico, depois pela tradição da sua gastronomia para enfim brindarmos com a relação dos alemães com a cerveja!

Nessa altura, já aprendemos tanto e ainda nem chegamos na metade do livro. Inclusive, o volume de Os Alemães é um dos mais generosos da coleção Povos e Civilizações. São mais de 300 páginas para viajar na cultura alemã, antes mesmo de sair de casa e pegar um avião para o país.

Uma Alemanha de tantas fronteiras…

Um país que se espelha nas águas dos rios. Nas suas margens, princesas viveram em castelos e guerras foram travadas. Difícil encontrar uma cidade alemã que não tenha crescido ao longo das margens de um rio. Como não lembrar das milhares de pontes de Hamburgo, a Veneza alemã?

Infelizmente, muitos desses rios que trouxeram prosperidade hoje estão agonizando pela poluição, e isso é pontuado pelo autor. A batalha pela ressurreição dos rios vem sendo travada em muitas cidades alemãs.

Esse passeio pela geografia da Alemanha me ensinou mais algumas curiosidades. Você sabia, por exemplo, que a variação de temperatura brusca em Munique é resultado do relevo, quando o vento acelera tanto que é forçado por cima das montanhas dos Alpes? É o Föhn, que faz com que a temperatura suba rapidamente, dando a sensação que o álcool da cerveja já “subiu pra cabeça”.

Não se assuste se acontecer com você, os médicos nunca encontraram nada de mal associado ao fenômeno – o único efeito pode ser a sua bebedeira!

Ainda é a geografia que ajuda a explicar como um país pode estar envolvido em tantos conflitos internacionais nos últimos tempos. A Alemanha é o país que divide o maior número de fronteiras com outros países (seja por terra ou separados por mares e estreitos).

Hoje contamos 17 países vizinhos, mas essas fronteiras mudaram demais nos últimos tempos. Cobiça, auto-afirmação, nacionalismo – foram vários sentimentos que motivaram essas fronteiras a se ampliar e retrair sucessivas vezes.

Comida e cerveja, cerveja, cerveja…

Impossível falar da Alemanha sem imaginar um grande copo de cerveja numa Oktoberfest. Ou mesmo em um biergarten (jardim de cerveja), os tradicionais bares ao ar livre que recebem toda a família alemã.

Mas vou confessar: para mim que adoro me esbaldar nos restaurantes estrangeiros, foi bem estranho presenciar essa cultura dos bares que servem cerveja e salsicha. Lembro que fui “pulando” de bar em bar até enfim perguntar a um atendente:

Amigo, onde podemos encontrar um lugar que sirva cervejas e jantar por aqui?

Para nós, um povo que está plenamente feliz com um prato aperitivo de chucrute e salsicha pode parecer bem estranho. Mas esse é o alemão. Quem pode culpá-los? As cervejas são ótimas, todos os mil tipos de salsichas, também!

Mas além do chucrute e salsicha, há sim uma gastronomia muito tradicional e deliciosa na Alemanha. E isso é descrito muito bem no livro Os Alemães. E mais: uma enorme variedade de doces (talvez nem tão doces assim, pra o paladar açucarado dos brasileiros).

Mesmo assim, como resistir ao strudel, stollen, Berliner e, meu favorito de nome impossível de pronunciar: scwarzwäldertorte, mais conhecido por aqui como bolo floresta negra?

Acompanhe tudo isso de um boa caneca de 1 litro de cerveja. A lei da pureza alemã, que rege a fabricação em tantas cervejarias no mundo, reina absoluta no país desde 1516.

Embora a proporção de malte, lúpulo e levedura seja controlada, isso não impede a variedade e criatividade dos alemães. Estima-se que existam mais de 7500 cervejas na Alemanha, com variações regionais que proporcionam que cada cidade ofereça uma experiência cervejeira única para o viajante.

Isso que chamamos de paraíso cervejeiro, certo?

Criatividade, genialidade e cultura

Uma sessão inteira do livro é dedicada ao que determina a cultura alemã. Desde uma língua bem difícil de aprender (com algumas palavras bem impronunciáveis), passando pela valorização das artes e intelecto (a lista de gênios de nacionalidade alemã poderia seguir infinitamente) até a filosofia e aspectos religiosos que formam a alma alemã, sua kultur.

Não podemos negar: são os alemães que fazem alguns dos melhores carros do mundo. Foram eles também que nos deram avanços preciosos, como a invenção da prensa de Gutemberg.

Vou dizer que a parte do livro dedicada aos avanços do mundo associados aos alemães foi um verdadeiro ensinamento. Dá pra perceber bem como esse povo teve impacto no mundo como o conhecemos.

Os Alemães, de Vinícius Liebel - Editora Contexto, Coleção Povos e Civilizações

Concorde você ou não, os ensinamentos de Karl Marx vieram para mudar o mundo como o conhecíamos.

E o que dizer da Interpretação dos Sonhos, de Freud, que mudou nossa forma de olhar para o mundo dentro de nós, e a Teoria da Relatividade de Einstein, que mudou nossa forma de olhar para o mundo aqui fora.

Os tempos sombrios

Impossível não acrescentar o nazismo, esse nacionalismo extremista que levou alemães a perseguirem cegamente outros alemães – os próprios Einstein e Freud, incluídos, por questões de “pureza da raça” e religião.

Esse período negro da história alemã deixou muitas marcas. Confesso que foi difícil passar por essas páginas do livro, porque esse pedaço da história sempre mexe muito comigo.

Mas esse é um pedaço da história que nunca pode ser esquecido, e precisa sim ser lembrado para que nunca mais aconteça de novo. E por isso destaco a presteza do autor ao tratar do assunto com uma variedade de detalhes históricos preciosos no livro.

A nova Alemanha

O livro termina trazendo a revolução social na Alemanha do pós-guerras. Uma revolução cultural e educacional, com a explosão de movimentos como o feminismo e a mudança de percepção de um povo que passou a se enxergar como europeu, parte de uma comunidade mundial.

Um olho no passado, para nunca esquecer do que aconteceu, e outro no futuro.

Cada vez mais, cresce a paixão do alemão pelo futebol (um amor que entendemos bem aqui no Brasil. Inclusive, o livro traça algumas linhas que cruzam os alemães e os brasileiros em muitos aspectos.

Os Alemães, de Vinícius Liebel - Editora Contexto, Coleção Povos e Civilizações

Falando do futebol especificamente, alguns dos maiores clubes do mundo são da Alemanha. As médias de público nos estádios são impressionantes, algumas das maiores do mundo. Futebol virou mesmo paixão nacional na Alemanha.

E eles parecem ter aprendido muito bem o esporte. Nunca vamos esquecer daquele terrível 7×1 que nos ensinou tanto sobre futebol – nós, que pensávamos saber de tudo.

A relação do alemão com o futebol – especialmente com a seleção do país – é outro destaque do livro. Entendi muito sobre o que é a Alemanha de hoje lendo sobre a relação dos alemães com os títulos mundiais (hoje, 4 no total).

Nesse último, em 2014, a presença de imigrantes no time (como as estrelas Podolski, Klose e Boateng) também fala muito sobre essa Nova Alemanha, multicultural e mais global.

Por que ler Os Alemães?

Se você vai viajar para a Alemanha num futuro próximo, você vai desembarcar no país com outros olhos (bem mais atentos e curiosos) depois da leitura esclarecedora de Os Alemães.

Se você não planeja viajar pra lá, mas tem curiosidade sobre esse país por seu papel central na história do século XX, leia Os Alemães para conhecer mais detalhes históricos da Alemanha nazista, trazida com uma análise ampla, que considera, um a um, vários aspectos determinantes para os caminhos tomados pela história.

Se a sua curiosidade vem da cultura, o livro Os Alemães é um passeio delicioso pelos nomes que fizeram da Alemanha uma “fábrica de gênios”, em todas as áreas do conhecimento.

Seja qual for o seu caso, Os Alemães é uma leitura prazerosa que vai te dar uma nova perspectiva sobre quem é esse povo. No mínimo, você vai terminar a leitura consciente que os alemães são muito mais que esse estereótipo que insistimos em construir.


Nota: O livro Os Alemães (Vinícius Liebel) foi enviado para nós para crítica, como uma cortesia da Editora Contexto. Nosso review sobre a obra foi feito com toda sinceridade e respeito por você, amigo leitor-viajante. 

Se você leu e tem uma opinião a dar sobre o livro, passa aqui na caixinha de comentários e conta pra gente o que achou!

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Lila Cassemiro
Klécia Cassemiro (Lila, para os amigos) é fotógrafa, videomaker e editora de conteúdo no blog Fui Ser Viajante. Também é sommelier de cervejas, formada pelo Instituto Science of Beer. Viajante geminiana e curiosa, é especialista em desenhar roteiros fora do óbvio e descobrir os segredos mais bem escondidos de cada destino.
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