Pequena África no Rio de Janeiro: herança negra na Zona Portuária
Você já ouviu falar da Pequena África no Rio de Janeiro? O termo começou a ser utilizado no início do século XX para se referir a uma região histórica e culturalmente importante do Rio de Janeiro, na região da zona portuária.
Um local de extrema importância cultural e histórica, um centro de resistência e preservação da cultura africana no Brasil.
No post de hoje, vamos te contar um pouco mais sobre a história da Pequena África no Rio de Janeiro.
Também vamos dar mais detalhes sobre como é o tour Pequena África, um passeio guiado que busca preservar a herança africana e contar essa importante história que é, muitas vezes, esquecida e invizibilizada.
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Principais destaques do post
- História e localização: A Pequena África, localizada na zona portuária do Rio de Janeiro, inclui os bairros Gamboa, Saúde e Santo Cristo, e é um centro histórico de resistência e preservação da cultura africana no Brasil.
- Cais do Valongo: Reconhecido pela UNESCO como Patrimônio Mundial, foi o maior porto de entrada de escravizados no Brasil, simbolizando a profunda influência afro-brasileira na região.
- Tour guiado pela Pequena África: O roteiro destaca lugares históricos e importantes, como: Morro da Conceição, Largo São Francisco da Prainha, Pedra do Sal, Jardim Suspenso do Valongo e o Mural Etnias no Boulevard Olímpico. Reserve o tour aqui
- Experiência: O passeio oferece uma nova perspectiva sobre a história negra do Rio de Janeiro, enfatizando a necessidade de maior valorização e reconhecimento da herança afro-brasileira.
Onde está localizada a Pequena África do Rio de Janeiro?
A região conhecida como Pequena África no Rio de Janeiro fica na Zona Portuária da cidade, abrangendo parte dos bairros da Gamboa, Saúde e Santo Cristo.
O nome Pequena África é uma referência à forte presença e influência da cultura afro-brasileira neste local, desde o período colonial.
O porto do Rio de Janeiro foi um dos principais pontos de desembarque de africanos escravizados trazidos ao Brasil durante o período colonial e imperial.
O Cais do Valongo, que também está localizado na Pequena África, foi o maior porto de entrada de pessoas escravizadas no Brasil, sendo hoje um sítio arqueológico reconhecido pela UNESCO como Patrimônio Mundial.
Com o fim oficial da escravidão em 1888, muitos ex-escravizados e seus descendentes permaneceram na região da zona Portuária, o que contribuiu para a formação de uma forte herança africana e cultura afro-brasileira.
Essas pessoas foram e são determinantes para formar a cidade do Rio de Janeiro como conhecemos hoje.
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Conheça a Pequena África no RJ em vídeo
Fizemos um vídeo mostrando os pontos altos do tour Pequena África. Clica aqui pra assistir nossa experiência:
Tour Pequena África: conheça a região e aprenda sobre a herança africana no Rio de Janeiro
O tour Pequena África funciona como um passeio guiado. Vamos caminhando pela região portuária e bairros adjacentes, que tem a ver com a história da comunidade negra no Rio de Janeiro (Saúde, Gamboa e Santo Cristo).
É importante ir com roupas leves e calçado confortável, porque o calor do Rio de Janeiro pode estar bem intenso, e o roteiro é feito caminhando.
Esteja preparado para enfrentar muito sol (especialmente nos meses de verão). É bom levar uma garrafinha com água, passar protetor solar e de preferência usar um chapéu.
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O tour inteiro levou quase 3 horas, entre caminhadas e paradas em pontos estratégicos para discutirmos a história da herança negra no Rio de Janeiro.
Museu de Arte do Rio (MAR): ponto de encontro
O ponto de encontro do nosso roteiro foi na Praça Mauá, em frente ao Museu de Arte do Rio (MAR). Mas fique atento ao local indicado pelo seu guia, pois o ponto de encontro pode mudar de acordo com o guia.
Ali em frente ao prédio do MAR, a guia começou a explicar porque o nome Pequena África, junto com todo o contexto da chegada dos negros ao Rio de Janeiro. Uma introdução histórica ao tour.
Morro da Conceição
A próxima parada do tour Pequena África foi no Morro da Conceição, um lugar que sempre tive curiosidade de conhecer na cidade do Rio de Janeiro e ainda não tinha tido a oportunidade de visitar.
Uma coisa que eu não sabia, e aprendi durante o tour, é que nos primeiros anos de ocupação da cidade do Rio pelos portugueses, morar no morro era chique demais, coisa de gente rica.
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Pobre morava ao nível do mar, lugar contaminado pelos “maus ares” do porto. Quem tinha condições tinha casa nas partes mais elevadas. Quem diria que isso ia mudar tanto, né?
Eram 4 morros que foram determinantes para esses primeiros anos da ocupação do Rio de Janeiro pelos portugueses:
O Morro da Conceição, o Morro do Castelo, o Morro de São Bento e o Morro de Santo Antônio formavam um quadrilátero onde a cidade cresceu por três séculos, a partir da sua fundação em 1565.
Desses, o Morro de Santo Antônio e o Morro do Castelo nem existem mais.
Já o Morro da Conceição é um bairro residencial, que carrega um bocado de nostalgia, com casinhas coloridas de estilo português, gente conversando na janela, crianças brincando na rua, cachorro latindo quando a gente passa.
É incrível notar como a estrutura simpática do bairro se preservou, apesar de tantos séculos já terem passado, tantos prédios terem aparecido ao redor, a movimentada Avenida Rio passando bem ali do lado…
A cidade mudou tanto, mas o Morro da Conceição parece que parou no tempo.
As curvas e esquinas vão levando a gente para encontrar ruas de nomes engraçados, que se destacam pela beleza escondida na simplicidade (como a Rua do Jogo da Bola e a Ladeira João Homem.
No tour, vamos conhecendo vários prédios de importância histórica dentro do bairro. Dois exemplos são:
- a Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição (1718), que a gente só viu de longe, e
- a Igreja de São Francisco da Prainha (1696), onde a gente parou por alguns minutos para observar o calçamento original, com pedras pé-de-moleque colocadas por pessoas negras escravizadas.
Largo São Francisco da Prainha
O nosso próximo ponto de parada está no sopé do Morro da Conceição: o Largo São Francisco da Prainha.
Esse é um lugar do Rio de Janeiro que a gente já frequentava muito, por conta do pólo gastronômico. Bares tradicionais como Angu do Gomes e Casa Porto, entre tantos outros.
Mas confesso que nunca tinha parado pra pensar no local como parte do contexto histórico da Pequena África.
Você já?
Sabe, por exemplo, quem é a mulher retratada na estátua no meio do largo da Prainha?
Eu te conto: essa é Conceição Baptista, a primeira bailarina negra do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, no começo do século XX.
Conceição era uma mulher negra, e por conta de sua cor de pele, nunca conseguiu um papel de destaque no corpo de baile.
Por isso, ela se mudou para os Estados Unidos para estudar e representar, e voltou ao Rio para montar a primeira escola de dança afro-brasileira do Rio de Janeiro.
Conceição ainda foi responsável pelo surgimento das primeiras alas coreografas nas escolas de samba do Rio.
Toda essa história guardada por uma estátua que eu já tinha visto tantas vezes, mas nunca tinha procurado conhecer.
Por isso, pergunto de novo: você conhece a sua cidade?
Outra coisa que aprendi no tour Pequena África era o que o Largo da Prainha virou ponto de referência dentro da comunidade negra por causa das casas de zungú.
Nelas eram preparadas refeições com angu, mingau de milho que dava força para o trabalho braçal que os negros precisavam realizar na zona portuária.
E eu que não tinha a menor ideia disso, mesmo tendo ido tantas vezes comer angu no restaurante Angu do Gomes, desde que vim morar no Rio!
As casas de zungú se tornaram pontos de encontro para a comunidade negra, então logo começaram a ser também locais de manifestação cultural e herança negra. Música, dança, religião.
Nas casas de zungú, os negros podiam recriar os laços de vida em sociedade, coisas que tinham sido destruídas com o sequestro dessas pessoas na África e trazida forçada ao Brasil.
Se você olhar o número 13 do Largo da Prainha, pode ver um desses prédios onde funcionava uma dessas tradicionais casas de zungú.
Essa casa em específico ficou famosa por uma batida policial no final do século 19, que prendeu 30 negros numa tentativa de reprimir suas manifestações culturais e religiosas.
Por fim, no Largo da Prainha, ainda conhecemos a Casa do Nando, outra opção gastronômica que oferece pratos tradicionais da cultura negra e carioca com preços bem mais em conta que os restaurantes mais famosos do largo.
Pedra do Sal
Bem ao lado do Largo da Prainha, a famosa Pedra do Sal surge como mais local de ocupação e resistência negra na cidade.
A presença negra no local vem de muito tempo, quando pobres e afrodescendentes ocupavam as partes mais baixas da cidade, modificando essa região perto do porto e aos pés do Morro da Conceição.
A Pedra do Sal, historicamente, era o local de desembarque e quebra das pedras do sal que chegavam de navio nos portos do Rio. As águas da baía de Guanabara vinham até ali, acredita?
Foi convivendo ali, especialmente nas casas de zungú e nas casas das “tias baianas”, que misturavam dança, festa e religiosidade, que a comunidade negra foi criando sua identidade no Rio de Janeiro.
O samba nasceu nesse ambiente, a gastronomia carioca se formou sob essas influências.
A casa da Tia Ciata, a mais famosa das tias baianas, considerada patrona do Carnaval e das Escolas de Samba do Rio, ficava nas imediações da Pedra do Sal.
Aprendi muito sobre ela num outro passeio no Rio, o tour pelos bastidores de um escola de samba.
Os descendentes desses negros formam o Quilombo Pedra do Sal, com direito legítimo sobre a terra que seus ancestrais ocupam há tantos anos.
Hoje nesse local está a sede de um dos sambas mais tradicionais da cidade, que acontece toda segunda feira (o Samba da Pedra do Sal).
Mas a Pedra do Sal é muito mais que um local de festa: é um local de herança negra, vida em comunidade e resistência negra.
Jardim Suspenso do Valongo
Próxima parada, outro lugar que eu nunca tinha visitado no Rio, apesar de passar tão perto várias vezes.
O Jardim Suspenso do Valongo foi criado por Pereira Passos, como um espaço de inspiração europeia, para funcionar como área de lazer para a comunidade mais endinheirada que vivia no Morro da Conceição.
Quando visitamos, o lugar estava bem abandonado (mato crescendo alto), o que mostra que não há muito esforço do poder público em preservar e divulgar a história.
Lá você pode ver várias estátuas romanas enfileiradas, bem em frente a uma “casa de engorda”, onde os negros que chegavam mais fracos nos navios eram trazidos para comer e ganhar força antes de serem vendidos.
Dos jardins, dá pra avistar o Morro da Providência, a primeira região favelizada do Rio, no conceito que conhecemos hoje.
E quer saber como começou essa troca, com os ricos saindo do morro e a população mais pobre ocupando esses espaços?
O governo prometeu que quem fosse lutar na Guerra dos Canudos ganharia um pedaço de terra quando voltasse ao Rio de Janeiro, bem ali onde hoje está a Favela da Providência.
O pessoal foi, lutou, voltou. O tempo passou e nada de receber a terra. Então o povo foi lá e ocupou a área.
E o nome favela, de onde veio?
Favela é uma flor, mas essa planta não é originária do Rio de Janeiro. Contam que era bem comum na região da Batalha de Canudos, e talvez alguns homens que lutaram lá tenham trazidos mudas e levado para o morro.
Fato é que hoje, se você chegar perguntando pela tal flor no morro da Providência, ninguém vai saber te mostrar. Na verdade, falam que ela nem existe mais por lá.
Cais do Valongo
Talvez o lugar mais importante que passamos em todo o tour. Quando falei que tentaram enterrar a memória da herança negra na cidade, eu estava falando bem sério.
A referência é o Cais do Valongo, um antigo porto de desembarque de pessoas escravizadas. Não apenas isso: o porto por onde desembacou a maior quantidade de pessoas negras escravizadas do Brasil – e do mundo.
Milhares de pessoas vindas da África, retiradas de suas casas e famílias, desembarcaram aqui para encontrar um destino muito cruel no Brasil.
Ele foi construído na região portuário como uma forma de afastar o comércio de pessoas escravizadas do centro da cidade, para longe dos olhos dos mais ricos.
O cais do Valongo fica nos arredores do Rio Antigo. No passado do Rio de Janeiro, só ia para essa região quem estava na intenção de comprar ou vender pessoas escravizadas.
Com o fim do comércio legal de escravizados no Brasil, o lugar era uma mancha na história da cidade. E eles quiseram, literalmente, enterrar e esquecer.
O Cais do Valongo foi totalmente coberto, para ser esquecido. Os vestígios materiais só foram descobertos na época da reforma da zona portuária para construção do Boulevard Olímpico, nas obras para as Olimpíadas Rio 2016.
Foi aí que toda a história voltou à tona.
O Cais do Valongo se tornou o 21º sítio brasileiro inscrito na Lista do Patrimônio Mundial da UNESCO, tamanha a importância do que esse lugar representa para a história do Brasil e do mundo.
Mural Etnias no Boulevard Olímpico
E chegamos na última parada do tour Pequena África, em frente ao lindo mural Etnias, pintado pelo artista Eduardo Kobra, também para as Olimpíadas Rio 2016.
Os 5 rostos representados no maior mural de graffitti urbano do mural representam os anéis olímpicos, e por isso os 5 continentes.
Kobra fez questão de representar cada um com a face de um dos povos originários. A primeira delas, de quem vem caminhando desde a Praça Mauá, é a África.
A América está bem no meio do mural, retratada pelo rosto pintado de um índio da tribo Tapajós.
Vale a pena fazer o tour Pequena África no Rio de Janeiro?
Gostamos muito da experiência de fazer o tour Pequena África. Aprendemos muito com esse roteiro pelo centro do Rio de Janeiro.
Confesso que meu olhar sobre a herança negra na cidade mudou muito, especialmente ao olhar para aqueles lugares que eu já conhecia, porém não tinha ideia da importância histórica.
Esse tour precisa ser mais divulgado, reconhecido, valorizado.
Gostamos da vivência e por isso fizemos questão de questão de divulgar o tour Pequena África no Rio de Janeiro com esse post, para que mais pessoas (cariocas ou não) conheçam esse roteiro.
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- Hospedagens com diárias entre R$401 e R$999:
- Hospedagens com bom custo benefício (diárias até R$400):
- Hospedagens econômicas (diárias até R$300):
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* Nós participamos do tour Pequena África no Rio de Janeiro a convite da agência Sou+Carioca. Todas opiniões descritas relatam a nossa experiência real na atração. Para mais informações, consulte as políticas do blog.
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